Posts de: Leia Mulheres
Que personagem de Jane Austen você é?
Um ano de Leia Mulheres
Michelle Henriques
Em março o Leia Mulheres completa um ano. Tudo começou de forma bem simples. A Juliana Gomes decidiu transformar a ideia de Joanna Walsh (#readwomen2014) em um clube de leitura presencial. E assim foi. Em março de 2015 tivemos nosso primeiro encontro e o livro escolhido para discussão foi “A Redoma de Vidro” de Sylvia Plath. O tema era pesado, não foi muito fácil falar sobre ser mulher e sobre depressão com pessoas desconhecidas. Mas aos poucos todos foram se soltando e o assunto foi rolando naturalmente.
Esse primeiro encontro sempre vai ficar marcado para mim como um dos melhores, ali tive certeza de que nosso clube seria uma boa coisa. E outros encontros igualmente ótimos aconteceram em seguinte. Outro preferido meu foi quando discutimos “Reze pelas mulheres roubadas”, da Jennifer Clement. Mais um livro com tema pesado (cultura de estupro) e o debate fluiu muito bem.
Em julho fomos chamadas para debater “A Hora da Estrela” de Clarice Lispector na Casa Rocco. Foi uma experiência e tanto. A casa estava cheia, com pessoas que não conhecíamos e mesmo assim foi muito proveitoso. Diversas pessoas passaram a frenquentar os clubes após essa edição especial. Em dezembro, para comemorar o aniversário de Clarice, repetimos a dose na Blooks de SP. O livro escolhido foi “A via crucis do corpo” e foram muitos os questionamentos levantados.
No dia 01º de julho lançamos nosso site e lá publicamos resenhas de diversos livros escritos por mulheres, bem como entrevistas com escritoras e com mulheres que estão de alguma forma ligadas ao mundo dos livros.
Lemos de ficção científica a clássicos, passando por terror e literatura brasileira contemporânea, e parece que a cada encontro tenho mais e mais a aprender. Que venham mais e mais encontros desse lindo projeto que tem alcançado diversas pessoas.
Juliana Gomes [Juju]
“Me desculpe o acaso por chamá-lo necessidade.
Me desculpe a necessidade se ainda assim me engano.
Que a felicidade não se ofenda por tomá-la como minha.
Que os mortos me perdoem por luzirem fracamente na memória.
Me desculpe o tempo pelo tanto de mundo ignorado por segundo.
Me desculpe o amor antigo por sentir o novo como primeiro.
Me perdoem, guerras distantes, por trazer flores para casa.
Me perdoem, feridas abertas, por espetar o dedo.
Me desculpem os que clamam das profundezas pelo disco de minuetos.
Me desculpem a gente nas estações pelo sono das cinco da manhã.
Sinto muito, esperança açulada, se às vezes me rio.
Sinto muito, desertos, se não lhes levo uma colher de água.
E você, falcão, há anos o mesmo, na mesma gaiola,
fitando sem movimento sempre o mesmo ponto,
me absolva, mesmo se você for um pássaro empalhado.
Me desculpe a árvore cortada pelas quatro pernas da mesa.
Me desculpem as grandes perguntas pelas respostas pequenas.
Verdade, não me dê excessiva atenção.
Seriedade, me mostre magnanimidade.
Ature, segredo do ser, se eu puxo os fios das suas vestes.
Não me acuse, alma, por tê-la raramente.
Me desculpe tudo, por não estar em toda parte.
Me desculpem todos, por não saber ser cada um e cada uma.
Sei que, enquanto viver, nada me justifica
já que barro o caminho para mim mesma.
Não me julgues má, fala, por tomar emprestado palavras patéticas,
e depois me esforçar para fazê-las parecer leves.”
Wislawa Szymborska
Talvez Wislawa fale melhor do que eu de como o projeto me ajudou nesse ano, como as coisas aconteceram e como eu me conheci. Talvez uma Juliana mais decidida, mais resoluta de quem é e do que quer. E sim, procurar trazer leveza em assuntos tão complicados como inclusão da mulher no mercado literário e posicionamento são minha função, eu sou o fantasma por não aparecer tanto. Mas o importante é que fundamentalmente eu aprendi a conjugar os verbos na primeira pessoa do plural e nada nem ninguém vai me tirar a sensação de estar sim fazendo algo não só por mim mas pelo meu semelhante também.
Juliana Leuenroth
E de repente você vê que um projeto que começou tímido, mas sempre com muita paixão, completa um ano. De um clube de leitura numa livraria em São Paulo, passamos para 25 cidades espalhadas pelo país e mais de 60 mulheres envolvidas. Mulheres maravilhosas que toparam entrar no grupo e que acreditam na literatura mais democrática e que isso passa por promover a literatura escrita por mulheres, que historicamente têm menos espaço no mercado como um todo, um reflexo e tanto da nossa sociedade.
Sou muito grata a todo aprendizado neste primeiro ano de Leia Mulheres. Conhecemos muita coisa nova, novas autoras, novas temáticas, pessoas incríveis… Nesse pouco tempo de projeto, já tivemos lindas oportunidades e parcerias, que só mostram a importância de divulgar a literatura escrita por mulheres e quanta gente pensava isso também e topou entrar nessa. Ou seja, só amor.
De cada clube que participei, sempre fica marcado algo. O livro ganha novas formas, novos significados. Entre os que foram mais ricos nesse sentido foram “Rezem pelas mulheres roubadas”, da Jennifer Clement, e o controverso “Infiel”, da Ayaan Hirsi Ali. Foram livros em que não tivemos um consenso entre os participantes e muita discussão foi levantada a partir disso.
Ver que passou tudo tão rápido só mostra o tanto que podemos fazer no futuro. Mas vamos com passos de formiguinha…
Foto de Alessandra Postali.
O inventário das coisas ausentes
Meio sol amarelo
Carol
As damas do suspense
Leia Mulheres – Belo Horizonte
28 de outubro – 19h30
Frankenstein – Mary Shelley
Mediação de Olivia Gutierrez, Mari Castro e Camila Borges
Sesc Palladium
Rua Rio de Janeiro, 1046
Centro
Leia Mulheres – Curitiba
21 de novembro – 10h30
O quarto de despejo – Carolina Maria de Jesus
Mediação de: Emanuela Siqueira e Lubi Prates.
Arte e Letra
Alameda Presidente Taunay, 130
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Leia Mulheres – Brasília
12 de novembro às 20h
O sol é para todos – Harper Lee
Mediação de Mariana de Ávila e Patrícia Rodrigues
Livraria Cultura
Shopping CasaPark
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