Em março de 2021 o Leia Mulheres completa seis anos. Ao longo desse tempo, conhecemos o trabalho de muitas mediadoras do projeto, que também são talentosas escritoras.
Como uma forma de comemorar o nosso aniversário e para homenagear essas mulheres que se dedicam ao Leia Mulheres, decidimos divulgar o trabalho das mediadoras enquanto escritoras. Leia Mulheres, inclusive as que leem outras mulheres. :)
Puro barro e monocromia
rio abaixo, profunda
e turva a água fina
do transparente
onde tudo
é superfície
e belo até que o velho
de um encantado
revelou
é preciso subir
até a nascente
para acessar
quem te plantou
rio acima
animais gosmentos
raízes retorcidas
entre o medo e as
grossas feridas
nem sempre
haverá conforto
onde reside
o primeiro gozo
que te brotou.
Lembrete
Lançar sobre todas
as coisas
o mesmo olhar
que um recém nascido
entrega às mãos
pouco antes
descobertas
Lembrar que a vida
é singular e breve
tal qual uma onda
que ao mesmo tempo
em que cresce
com brilho profundo
vai engolindo tudo
na medida em que
virando espuma
se desfaz.
Estandarte
O que pode o pássaro
que não pode a palavra?
enigmático pouso
desafiando a gravidade
do que é feita a palavra
que não alcança o pássaro?
nem o estrondo
silencioso
do mecanismo
que o mantém
feito estandarte
em pleno voo
tão imenso
quanto indizível
meneando
na linha fina
do além-mar.

Katarine Araújo é advogada por formação e poeta por devoção. Vegana, mãe de gatas, frequentadora assídua de estádios de futebol e olindense apaixonada. Escreve desde 2006 quando começou a publicar no extinto blog “lombras da vida”. Publicou “Visceral” em 2016 através da editora independente Cartonera do Mar. É Mediadora do Clube de Leitura Leia Mulheres Olinda.