Os Monólogos da Vagina

Por: Patricia Lorena | Em: 21 / janeiro / 2019

Os Monólogos da Vagina é uma compilação dos textos que deram origem a uma peça de teatro, homônima, escrita por Eve Ensler – dramaturga, performer e ativista. Essa peça, escrita a partir de entrevistas tomadas entre mais de 200 mulheres, gerou um amplo e necessário movimento a favor do combate à cultura do estupro e a toda e qualquer forma de violência contra a mulher, contra o corpo feminino.

Em tempos do renascimento de um ultraconservadorismo, essa obra é mais que um livro, é uma ferramenta, um instrumento de autoconhecimento, de valorização da autoestima e, a posteriori, de enfrentamento a qualquer comportamento misógino.

O livro está dividido em três partes: Os monólogos da vagina, que são os textos que resultam das entrevistas e vivências com mais de 200 mulheres ao redor do mundo. Os Monólogos Spotlight, que foram escritos para o V-Day, uma campanha impulsionada pela peça, que tem como objetivo arrecadar fundos e redistribui-los entre ONGs e outros coletivos de combate à violência contra a mulher, e por último o V-Day, que explica detalhadamente a campanha.

No primeiro capítulo, os textos expõem a necessidade de nomear, falar sobre a genitália feminina, reconhecer o próprio corpo. A autora fala da educação e cultura proibitivas, que nos ensina a não olhar o próprio corpo, especialmente a genitália.

Se atos como nominar, falar, até hoje soam revolucionários, atitudes como o toque, o desejo e o prazer eram quase impensáveis. É incrível como um livro escrito há 24 anos nos parece tão atual, isso mostra o quão é necessária e urgente a luta pela autonomia do corpo feminino. Entender o corpo como político, que conta suas histórias, narrativas e por isso precisa ser visto e inserido no debate público e em espaços de poder. Os caminhos abertos até aqui são um marco, um indicativo do quanto ainda temos que caminhar.

Voltando ao livro, com perguntas diretas, do tipo: se sua vagina se vestisse, que roupa ela usaria? se sua vagina falasse, o que ela diria em apenas duas palavras? A vagina tem cheiro de que? a autora faz interlocuções que desaguam em relatos incríveis e improváveis, verdadeiras libertações, que vão desde estupros a relatos dolorosos de traição, e de violências contra mulheres.

Quanta negação, violação e violência ainda estão presentes em nosso cotidiano carregando status cultural. Em nome da cultura e da religião: mutilação. Em cada mutilação, a morte lenta, gradual e dolorida de meninas e mulheres. Somos produtos e produtores de cultura, é certo que são os costumes que nos ligam ao passado, a quem somos originalmente, mas essa é uma assertiva que não pode e nem deve ser universal e atemporal. Em nome da cultura mulheres não podem ir à escola, entrar na política ou gemer de prazer. A cultura é resultado de quem somos e não somente o contrário. A cultura é movimento. Quando uma cultura está minando a civilidade e a humanidade de outrem, faz-se mais que necessário mudá-la.

Além da mutilação genital, há relatos de outras violências, ocorridas em todas as partes do mundo, inclusive nos campos de guerra, como Bósnia e no Japão. O relato das ‘Mulheres de Conforto’, termo que designa as mulheres forçadas à prostituição e escravidão sexual nos bordeis militares japoneses nos dão uma dimensão da violência. Esse relato é dilacerante, revira as vísceras, tamanha crueza.

O livro é intenso e traz a mulher para ser pensada de forma interseccional. Apesar de toda a dor provocada, o livro também nos envolve por uma atmosfera poética e bem humorada, quando dos relatos de mulheres que resolvem assumir seus prazeres e seu corpo, falando sobre eles.

É um livro libertador, e mais ainda, encorajador.

 

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