Casa do Sol, 31 de março de 2017
o fio de água que liga as imagens aparentemente pequenas e pouco nítidas do livro “Nenhum orvalho sobre a cidade”, aos textículos de luzes poéticas, da Lúcia Castello Branco, que encontrei enquanto organizava a biblioteca do escritório, encanta pela profundez da simplicidade e fez lembrar que preciso retomar a leitura da obra da minha muito amada Maria Gabriela Llansol; que é a ponte sólida e sensível entre mim e a escritora/pesquisadora brasileira.
sou bastante e sempre mais grata a tudo aquilo que me é desconhecido e às experiências reveladoras da infinitude da minha ignorância. sou grata pela inquietude que, quase sempre comovida, me movimenta; grata por ter dedos ávidos para tatear todos os mundos que o mundo me apresenta e pelos olhos curiosos que descortinam abismos e belezas furiosas. sou grata porque me sei discípula do tempo que, ao atravessar o corpo-templo, ensina âncoras de voar.
Casa do Sol, 01 de abril de 2017
escrevo durante a madrugada para apreender todas as diversas sensações que me atravessam.
o encontro com as escritoras Mariela Mei, que conheci durante o meu primeiro período como artista residente, em 2016, e Sabrina Sanfelice, que eu já admirava e de quem me sentia quase íntima, por acompanhar nas redes sociais, foi mais bonito do que pensei que poderia ser.
embora eu tenha preparado a casa durante a tarde, fizemos juntas, as três, os ajustes finais; como colocar uma placa no portão pedindo para que os batessem palmas ao chegar e esperar que o guarda noturno trouxesse de volta as pessoas que conduziu para o evento errado. a Casa do Sol é sempre vão e entre; palco onírico para a prática tátil do real.
na sala à esquerda de quem entra na casa, ao redor da longa mesa escura, entre os altares, conversamos sob os olhares sempre atentos dos convidados que interviram pontualmente, em um encontro intimista, como costumam ser os encontros de final de residência.
falamos sobre as nossas escritas, sobre as mulheres na escrita, nossas inspirações, motivações, medos e sobre a recepção e decepções do mercado. a Mariela e a Sabrina trouxeram livros escritos por elas e por outras escritoras. emprestamos o som das nossas vozes a poemas, contos e excertos; entoamos a leitura como gesto de partilha, devoção e amor.
levarei na mala cor de rosa, que apresenta forte tendência a Bolsa Amarela, o sucesso da vivência. a amizade entre a Sabrina e a Mariela, assim como a relação delas com o que escrevem, tornaram-se parte de quem quero ser.
