Mulheres no cinema e na literatura (parte 1)

Por: Michelle Henriques | Em: 13 / março / 2017

Dando continuidade à série de novidades do Leia Mulheres, vamos compartilhar com vocês diversas listas de alguma forma ligadas à literatura produzida por mulheres. Para começar, alguns comentários sobre diretoras de cinema que também escreveram livros, e vice versa.

Liv Ullmann

Liv Ullmann, filha de noruegueses, nasceu em 1938 em Tóquio, por conta do trabalho do pai, que era engenheiro de aeronaves. Passou boa parte da infância no Canadá e nos EUA, e se mudou para a Noruega com a mãe e a irmã após o falecimento do pai. Ela começou sua carreira no teatro nos anos 50 e ficou conhecida pelo papel de Norma em A Casa das Bonecas, de Henrik Ibsen.

Em 1966 começou a trabalhar com Bergman no cinema, sendo Persona o primeiro filme de parceria deles. Ao longo de sua vida atuou em diversos filmes dele e de outros diretores. Estreou na direção em 1982 no filme Love, com seis segmentos escritos, dirigidos e produzidos por mulheres. Em 2000 dirigiu Infiel, com roteiro de Ingmar Bergman. Voltou à direção em 2014 com Miss Julie, adaptação de Strindberg escrita por ela mesma, com Jessica Chastain, Colin Farrell e Samantha Morton.

Uma vez perguntada por um repórter em qual projeto estava trabalhando, Liv Ullmann ficou com receio de dizer que não tinha nenhum projeto, então disse que estava escrevendo um livro. E assim nasceu Mutações, uma espécie de autobiografia, com bastante foco no período de produção do filme Face a Face (também dirigido por Ingmar Bergman). Também foi lançado no Brasil Opções, outro livro autobiográfico.

Mutações foi lançado no Brasil na década de 1980 pelo saudoso Círculo do Livro. Em 2008 a Cosac Naify relançou o livro em capa dura e por conta do lançamento Liv Ullmann veio para o Brasil. Estive presente e posso dizer que foi um dos grandes momentos da minha vida.

Susan Sontag

Susan Sontag nasceu em 1933 em Nova Iorque. Durante toda sua vida esteve envolvida em diversos projetos. Escreveu seis romances, ensaios sobre os mais diversos assuntos como AIDS, fotografia, cultura, comunismo e direitos humanos. Sempre muito controversa e polêmica, ela também dirigiu um documentário sobre Israel (Promised Lands) e três filmes (Unguided Tour, Bröder Carl e Duett för kannibaler), sendo dois deles produzidos na Suécia. Sontag também chegou a atuar no começo dos anos 1980.

Em 2014 foi lançado um documentário intitulado Regarding Susan Sontag que explora bastante a vida e a carreira da autora. Notamos que ela não era uma pessoa de fácil convívio, há depoimentos um tanto rancorosos de pessoas de seu passado, mas é inegável a genialidade de Sontag. Ela sempre esteve envolvida com as demais áreas do conhecimento, sempre interessada nas mais diversas áreas e com as mais controversas opiniões.

No Brasil, muitos de seus livros foram lançados pela Companhia das Letras, inclusive seus Diários (vol 1 e vol 2, publicados após sua morte, com curadoria de seu filho. Também é possível encontrar em sebos edições antigas da L&PM de O Benfeitor, seu primeiro romance experimental.

Marguerite Duras

Assim como Susan Sontag, Marguerite Duras esteve envolvida com as mais diversas áreas do conhecimento. Nascida em 1914 na Indochina (hoje Vietnã), Duras teve uma extensa carreira tanto no cinema quanto na literatura. Ela dirigiu mais de 15 filmes e escreveu o roteiro do premiado Hiroshima Meu Amor, dirigido por Alain Resnais e lançado em 1959, é um dos maiores destaques da Nouvelle Vague. Foi indicada ao Oscar por melhor roteiro original.

Duras teve uma infância pobre junto à família na Indochina e aos 17 anos se mudou para a França para estudar matemática, mas logo abandonou a ideia e se dedicou aos estudos de ciências políticas e direito. Ela era membro do Partido Comunista Francês e durante os anos 30 trabalhou para o governo francês representando a colônia da Indochina.

Seu livro mais conhecido é O Amante, lançado em 1984 e adaptado para o cinema em 1991 por Jean-Jacques Annaud. Duras não gostou do filme e resolveu escrever um novo livro, narrando como ela gostaria que o filme tivesse sido feito. O resultado disso é o livro O Amante da China do Norte. Por já ter trabalhado com cinema, essa foi uma escolha estranha da autora. Seu livro foi transformado em filme, e depois ela transformou o filme em livro novamente. Curioso, no mínimo.

Nora Ephron

Nora Ephron nasceu em 1941, em Nova Iorque. Ela se tornou conhecida pelos artigos que escreveu para a revista Esquire na década de 1970. Esses artigos deram origem ao livro Crazy Salad, que se tornou um best seller.

Sua entrada para o cinema aconteceu com o roteiro de Silkwood – O retrato de uma coragem, em 1983 e, alguns anos depois dirigiu seu primeiro filme, Sintonia de amor. Ela também escreveu o roteiro de Harry e Sally (Ephron ganhou o BAFTA por esse roteiro), ambos clássicos da virada dos anos 80 para os 90.

Ephron também dirigiu outros filmes que foram sucesso do grande público, como Mensagem para você, A Feiticeira e Julie & Julia. Suas comédias românticas sempre fugiram de clichês, são filmes leves e bem prazerosos de assistir. No Brasil, seus livros Meu Pescoço é um Horror, Não me lembro de nada e O amor é fogo foram publicados pela Rocco.