Casa do Sol, 28 de março de 2017
acordei e pari um poema.
ainda que despretensiosa, a criação é risco fatal imposto a tudo que vive dentro; é sempre mais fácil atribuir a culpa aos deuses ou seus contrários. por recusar o jugo da avemusa-rara inspiração, tenho aprendido a semear entre pedras.
a caminhada noturna entre o que é condomínio e o que foi fazenda, que vive nas árvores e nas histórias, proporciona sensações inspiradoras. o corpo sente quando o bambuzal adensa e sofre quando vê os muros de prisão. com o coração entre os nomes, preferências e hábitos das muitas plantas ornamentais e árvores jovens e históricas, meus acompanhantes estimulam o voar.
Casa do Sol, 29 de março de 2017
acordei com uma mensagem do Carlos me contado sobre a morte do João Gilberto Noll, que é um dos escritores que ele ama e que me convenceu a ler.
o mundo perdeu o movimento da pessoa que agora respira, e inspira o sopro, na obra que elaborou.
um dos livros que a Olga está lendo é O Memorial do Convento, do meu amado Saramago – sobre quem, por conta do livro, tivemos uma conversa de leitoras admiradas. gosto de descobrir afinidades literárias com as pessoas que estimo e penso que nossa relação com os escritores e livros que amamos pode ser um valioso objeto de reflexão.
um dos livros que a Olga está lendo é O Memorial do Convento, do meu amado Saramago – sobre quem, por conta do livro, tivemos uma conversa de leitoras admiradas. gosto de descobrir afinidades literárias com as pessoas que estimo e penso que nossa relação com os escritores e livros que amamos pode ser um valioso objeto de reflexão.
não conheci a Hilda, mas estou na casa idealizada por ela. hoje é a Olga quem, ao cuidar dos objetos e compartilhar com todos as muitas histórias aqui vividas, dá vida à Casa do Sol. hoje, a casa de móveis antigos, tapeçarias e paredes avermelhadas com muitos quadros é a memória da Hilda, mas também o acolhimento da Olga; além de ser uma terceira casa, a quase-mítica de iluminação amarelada, lugar onde tenho vivido, composto por tudo aquilo que consigo apreender de ambas as mulheres peculiares, de presenças incrivelmente fortes, e também pelo olhar sensível que é diariamente transformado, e pelas vivências que me trouxeram até aqui.
Casa do Sol, 30 de março de 2017
muitas e deliciosas visitas. gosto especialmente das histórias que trazem as pessoas até aqui – as de hoje trouxeram até o encontro com um Alcir Pécora muito simpático e solícito, na UNICAMP. a movimentação ondulante transforma o fluxo, mas não reduz a velocidade dos planos de dominação mundial.
ver o encontro de/com escritoras com o qual sonho há muito tempo tem sido mais uma das minhas alegrias. é curioso e triste constatar que é mais simples realizar aqui, e não em Itapetininga, um dos projetos bonitos que me são caros. ainda assim, sigo firme na utopia de que, algum dia, o poder público acolha com dignidade as idéias de quem não participa da rude e infrutífera prática politiqueira.
na Casa do Sol, acontecerá no próximo sábado, às 20h30. receberei as escritoras Adriana Zapparoli, Mariela Mei e Sabrina Sanfelice, para conversar sobre por que e como nos movemos enquanto mulheres fazedoras de literatura. que seja belo, então.