Um carretel de linha azul

Por: Juliana Gomes | Em: 10 / fevereiro / 2017

Os Whitshank são uma família comum da classe média de Baltimore, tão comum como um carretel de linha. Mas há algo incomum na forma como esse carretel se desenrola. Em uma narrativa fragmentada, quatro gerações se encontram nos dias atuais. A forma como a autora aborda temas como preconceito, mentiras, medo e luto é simples e nos dá a impressão que poderia acontecer com qualquer um de nós.

Um carretel de linha azul de Anne Tyler, assim como O encontro de Anne Enright, é um romance que te apresenta uma história sem altos e baixos, mas nos prende por sua trama envolvente e tão próxima do leitor que passa uma sensação de conversa informal.  A casa dos Whitshank e Abby, a matriarca, são perfeitamente descritos quando a observamos “andando de um lado para o outro, para cima e para baixo, o corredor persa que estava gasto quase branco no meio de todas as vezes em que ela tinha andado antes”. O romance é descritivo e usa  imagens para nos fazer perceber as preocupações de Abby e que família tem problemas, apesar da aparente tranquilidade.

O romance trata de quatro gerações da família Whitshank, levantando questões como diferenças geracionais e aspirações. Anne Tyler recorre à tradição da ficção literária nos EUA , explorando a natureza ilusória do sonho americano, a ideia de que o progresso pode ser alcançado por qualquer pessoa por meio de trabalho duro. Mais de uma vez, a autora nos confunde, criando a impressão de que que os personagens são complexos ou de que há um mistério muito maior. No entanto, mostrar o simples e nos entreter por 380 páginas é uma das virtudes de Anne Tyler.

Pegue sua cadeira de balanço, sua limonada e aproveite a trama de Um carretel de linha azul sem rotulá-la como mais uma novela americana a la Dallas. É um bom romance sobre a desconstrução de imagens da família tradicional.

“Foi esse último pensamento que lhe indicou o que fazer sobre o companheiro de assento: nada. Fingir não perceber.” pág. 383

Anne Tyler nasceu no Condado de Hennepin em 25 de Outubro de 1941.  É romancista, contista e crítica literária vencedora de um Prêmio Pulitzer por seu livro Breathing Lessons (ainda não editado no Brasil), em 1989. Publicou mais de 20 romances, os mais conhecidos  são Dinner at the Homesick Restaurant de 1983 (atualmente esgotado no Brasil), Turista acidental (The Accidental Tourist de 1985), e Exercícios de Respiração (Breathing Lessons de 1988). Também recebeu os prêmios Janet Heidinger Kafka Prize, o Ambassador Book Award, e o National Book Critics Circle Award. Em 2012 recebeu o Prémio The Sunday Times para a Excelência Literária.

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