Uma garota de muita sorte

Por: Fernanda Rossin | Em: 17 / janeiro / 2017

O romance Uma garota de muita sorte marca a estreia da jornalista Jessica Knoll no mundo da ficção, e também da coleção Luz Negra (Editora Rocco), focada na publicação de livros de suspense.

Seguimos a história de TifAni FaNelli, uma jovem de vinte e oito anos que parece ter alcançado em seu curto tempo de vida tudo que as pessoas almejam: trabalha para uma renomada revista feminina, está noiva de um cara rico de família tradicional, mora em uma área nobre de Nova York e atende os padrões de beleza impossíveis do universo que vive.

Porém, é claro, logo começamos a perceber que nem tudo é como parece – que a vida de princesa da Disney de Ani, como prefere ser chamada, sustenta-se em muitos segredos que esconde em seu passado e que ela ainda não superou completamente.

A narrativa em primeira pessoa intercala a Ani do presente, com sua vida de sonhos e noiva de Luke Harrison, com a Tif de catorze que estava começando o ensino médio em uma escola tradicional de Main Line depois de estudar por anos em um colégio católico só para meninas. A sede de Tif de ser popular a faz reconhecer rapidamente qual o grupo de amigos que ela deveria se aproximar e como fazer ser notada por eles. E é assim que se aproxima de Hilary e Olivia, duas amigas que se autodenominam HOs, que por sua vez são próximas dos garotos esportistas e populares que Tif refere-se como os Pernas Peludas.

“Não há duvidas de que meu nome fez erguer as sobrancelhas de alguns coordenadores de universidades quando viram minha solicitação de matrícula. Estou certa de que eles ajeitavam um pouco o corpo nas cadeiras, chamavam as secretárias perguntando “Sue, essa é a TifAni FaNelli da…”, então paravam de repente quando viam que eu havia frequentado a Bradley, o que respondia à pergunta que estavam fazendo.”  pg. 25

O começo do livro não me empolgou nem um pouco. Knoll exagera ao tentar ambientar o cotidiano luxuoso e superficial de Ani, citando sete marcas caríssimas diferentes por página, o que logo torna a leitura entediante porque sim, já entendemos que ela tem uma bolsa que é ainda mais cara que uma Prada e veste a última coleção da Dolce & Gabbana. Logo cansa também as infinitas menções à perda de peso, a banalização de distúrbios alimentares e a constante gordofobia; apesar de entender que isso faz parte da construção do ambiente hostil no qual Ani vive, não sou obrigada a lidar com isso.

Já se tinham passado umas boas cem páginas quando a história começou a realmente me prender, com a Ani do presente dando mais pistas sobre as revelações que faria sobre seu passado no ensino médio. A segunda metade do livro foi muito mais fácil de ler, porque comecei a ficar realmente curiosa para saber como aquela história terminaria. “Uma garota de muita sorte” não é uma obra prima, mas lida com assuntos importantes e os resolve de maneira satisfatória. Para quem curte uma vibe de suspense misturada com Young Adult, vale a pena se aventurar com essa história.

Vale também o aviso de gatilho que (atenção para o spoiler) em torno da centésima página há uma cena de estupro coletivo, e algumas páginas demais há uma segunda tentativa de estupro. A violência não é banalizada e é tratada de maneira muito séria pela autora, que infelizmente passou por uma experiência parecida na vida real. (fim do spoiler)

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