Euforia

Por: Mariana de Ávila | Em: 13 / abril / 2016

“Estamos sempre, em tudo que fazemos neste mundo, disse ela, limitados pela subjetividade. Mas a nossa perspectiva pode ter um alcance enorme, se dermos a ela a liberdade para se desenrolar.”

Considerado pelo The New York Times como um dos melhores romances de 2014, “Euforia”, da norte-americana Lily King, acaba de chegar ao Brasil pela Globo Livros.  A história se passa na Nova Guiné e é inspirada em um período da vida de Margaret Mead, pesquisadora que se tornou referência em seu campo de pesquisa.

“Euforia” aborda um pouco da história da renomada antropóloga Nell, que ganhou destaque ao escrever um livro sobre costumes de uma tribo com cultura diferente. Depois de todo sucesso alcançado com a repercussão do estudo, Nell decide voltar à região que originou sua pesquisa para empreender uma nova investigação. Junto com Fen, marido e também antropólogo, Nell, disposta, portanto, a aprimorar os estudos, retorna à Nova Guiné.

Quase sempre à margem de Nell, Fen demonstra, muitas vezes, um sentimento de descontentamento por não ter o trabalho tão reconhecido quanto o da esposa. Ele se sente tão inconformado com essa situação que, durante as pesquisas de campo, chega ao cúmulo de não compartilhar informações com a companheira. Mais do que descontentamento, o que Fen sente é inveja e, de certa forma, indignação pelo trabalho da esposa ter mais reconhecimento. É possível perceber, com esse exemplo, que o livro também apresenta uma reflexão sobre questões de gênero.

Depois de idas e vindas na pesquisa, Nell adoece e precisa ir em para um local com estrutura um pouco melhor para se recuperar. Contrariado e aparentando má vontade, Fen acompanha a esposa. Ao chegar nesse local, os dois encontram Andrew, um jovem antropólogo que também estava realizando pesquisa de campo. Uma curiosa e distinta conexão entre os três é formada. Para Fen, ele é companheiro para diálogos e conversas sobre a tribo, já que as conversas com a esposa são frias e escassas; para Nell, as conversas com ele também são mais instigantes do que as poucas que ela tem com o marido. Cada um dos dois vai se aproximando de Bankson de um jeito particular. Conforme isso acontece, o desfalecimento da relação entre Nell e Fen fica ainda mais evidente.

Ainda que tenha fortes inspirações em uma história real, o livro é uma ficção. A pesquisadora Margareth Mead, que serviu como motivação para Lily King  escrever o quarto romance de sua carreira, é uma das principais referências no campo de estudo da antropologia.

Além da inspiração em Mead, outro ponto positivo do livro é a reflexão sobre amor, amizade e egoísmo, proposta por Lily King.  As relações humanas presentes no livro são intensas e pungentes, tornando a leitura mais envolvente. “Euforia” é, por fim, um livro que serve de incentivo para conhecer mais sobre uma das mais importantes antropólogas do século XX.

“Ela me disse que os tam acreditam que o amor cresce no estômago e seguram a barriga quando o coração está partido. ‘Você está em meu estômago’ era sua expressão mais íntima do amor.”