“Mais forte do que um homem, mais simples do que uma criança, a natureza de Emily erguia-se solitária. Sob uma cultura em nada sofisticada, e gostos em nada artificiais, havia nela um fogo secreto que deve ter lhe inflamado o cérebro e as veias.” É assim que Charlotte descreveu sua irmã, Emily, autora do mais que clássico “O Morro dos Ventos Uivantes”.
Emily, nascida em 1818, foi uma das “Irmãs Brontë”, famosas por terem escritos notáveis romances e terem primeiro publicado sob pseudônimos masculinos. Emily também foi poetisa, mas foi com seu único romance que alcançou a fama, anos após sua morte. Pouco se sabe sobre ela, apenas as descrições dadas por Charlotte. Na época em que o livro foi lançado, críticos disseram que era uma obra sádica, pervertida e patológica.
O livro começa a ser narrado em 1801, quando o Sr. Lockwood passa a morar na Granja Thrushcross e se torna inquilino do Morro dos Ventos Uivantes (Wuthering Heights). Ele logo conhece seu senhorio, Sr. Heathcliff, figura bastante detestável que mora isolado com a jovem Catherine Linton, com Earnshaw e alguns poucos criados. A dinâmica da estranha família é tensa e permeada por grosserias.
Sr. Lockwood se vê obrigado a passar a noite no Morro após uma tempestade, e ao voltar para casa pela manhã se vê doente. De cama, sente-se entediado e pede que sua criada Nelly Dean lhe conte um pouco mais sobre a figura tirânica de Heathcliff e assim ela se põe a narrar todos os acontecimentos do Morro dos Ventos Uivantes.
Catherine e Hindley Earnshaw são dois irmãos que viviam no Morro com seus pais. Tudo corre bem, até que o pai chega de viagem acompanhado de um jovem cigano, que ele disse ter encontrado perdido nas ruas. O orfão é chamado de Heathcliff e passa a ser criado como um dos irmãos. Desde cedo há rivalidade entre ele e Hindley, porém a relação com Catherine é bastante afetiva.
Os anos se passam e Heathcliff desaparece por um longo período. Neste meio tempo, Catherine se aproxima ainda mais se seus vizinhos e passa a ter uma estreita relação com Edgar Linton, com quem se casa. Catherine morre ao dar a luz poucos anos depois e aqui a narrativa assume um ar ainda mais sombrio e opressor.
Por muitas vezes “O Morro dos Ventos Uivantes” é interpretado como uma história de amor, mas passa longe disso. O tom da obra inteira é sombrio, triste e por vezes assustador. Nenhum personagem ali ganha a simpatia do leitor, todos são detestáveis de alguma forma e esse é o grande ponto do livro. Mesmo sem a empatia, vamos acompanhando os personagens e torcendo de alguma forma por eles.
Diferentemente de sua irmã Charlotte, Emily não focou seu trabalho em mulheres fortes, mas sim nas fraquezas e defeitos do ser humano. Suas mulheres não são fracas, são cheias de defeitos e caprichos, com personalidades moldadas pela solidão em que vivem.
Emily também passou sua vida isolada, seu único contato era sua família. Ela chegou a estudar francês em Bruxelas, mas foi uma experiência péssima e ela logo voltou para a casa da família. Em 1979 foi lançado um filme chamado “As Irmãs Brontë” com Isabelle Adjani no papel de Emily. Ali podemos ter uma ideia de como era a vida da criadora de um dos melhores romances clássicos.
“O Morro dos Ventos Uivantes” já se tornou parte da cultura popular, tendo sido adaptado para o cinema e para a televisão diversas vezes. Em 1978 a cantora Kate Bush lançou uma música inspirada no livro, cantada do ponto de vista de Catherine. E após o estrondoso sucesso da série “Crepúsculo”, o livro foi relançado com um selo na capa que dizia “O livro preferido de Bela e Edward”. Um tanto esquisito…
O livro será discutido na Livraria Blooks, em São Paulo, no dia 26 de janeiro. Saiba mais.