Melhores do ano – 2015

Por: Juliana Gomes | Em: 22 / dezembro / 2015

Desde março estamos num turbilhão de leituras e emoções com os clubes de leitura #leiamulheres que acontecem pelo Brasil. Por isso, pedimos que as mediadoras nos contassem qual foi sua melhor leitura independente do ano de edição do livro.

94945Emanuela Carla Siqueira – Curitiba
“Li muitos livros excelentes escritos por mulheres em 2015. Muitas obras que tratam mais da construção da subjetividade do que construções estéticas, porém riquíssimas, importantes e que mudam, em alguns casos, o olhar furtivo para o passado e a construção da História. “Minor Characters” (Coadjuvantes), da americana Joyce Johnson foi o livro mais marcante do ano. Tirando as motivações acadêmicas da leitura, ele mudou toda uma visão que tinha sobre a vanguarda da Geração Beat, leituras tão corriqueiras quando se quer se livrar do status quo. Joyce Johnson publicou “Minor Characters” em 1983 mas o livro nunca foi traduzido no Brasil. Nele ela relata memórias dos anos 50 e começos dos 60, e uma Nova Iorque efervescente e boêmia. Fatos como ser judia e sair de casa aos 19/20 anos para ser independente, sustentar um escritor – pode-se chamar de Jack Kerouac – e ver uma grande amiga enlouquecer e acabar cometendo suicídio, por não suportar as repressões do momento, são apenas alguns detalhes dessas memórias compartilhadas. Joyce Johnson é uma excelente escritora e o que ela faz em “Minor Characters” é um “On the Road” às avessas, onde as mulheres viviam suas aventuras morando em lofts baratos, ganhando pouco pelo mesmo serviço masculino, mas saboreando o vento no rosto de serem elas mesmas, custando o que custou.”
Minor Characters” (Coadjuvantes)
Joyce Johnson

 

maoesquerdaJoana Mutti – Salvador
“O melhor livro lido no ano de 2015 foi escrito por uma mulher. Estou falando do livro “A mão esquerda da escuridão” da Ursula K. Le Guin. Nessa obra de ficção cientifica a autora nos leva ao planeta de Inverno, no qual os seus habitantes tem uma característica nada comum: são andróginos. Assim como para Genly Ai, um terráqueo enviado ao planeta com uma missão especial, essa característica da população nos leva a questionar sobre o tema de gênero, família, religião, questões emocionais e outros tantos debates descritos pela autora com uma sensibilidade singular que envolve o leitor a cada parágrafo. “
A mão esquerda da escuridão
Ursula K. Le Guin

 

nicolekrausMariana de Ávila – Brasília
“Misturar vozes é uma das características da escrita de Nicole Krauss. No início do livro, pode ser um pouco difícil entender as histórias e quem é quem em cada uma das narrativas inseridas no livro. No entanto, ao chegar no primeiro terço da leitura, o leitor já consegue identificar, pelas próprias marcas textuais e maneira de se expressar, de quem é a voz que está falando em cada trecho. Algo em comum une os personagens. Descobrir o que é isso ao longo do livro é apenas um dos prazeres ao ler A história do amor. Além disso, Nicole Krauss apresenta de maneira delicada histórias de vida, abordando temas como afeto, conquistas e frustrações.”
A história do amor
Nicole Krauss

 

amadaPriscilla Campos – Recife
“Falar sobre a importância de Morrison para o que chamamos de literatura torna-se um discurso acessório diante do que a norte-americana alcança a partir de sua escrita. Em Amada, ela apresenta a narrativa elíptica e, não obstante, bem organizada em sua proposta poética, que encontramos nos seus clássicos posteriores — a ver Jazz (1992) e Amor (2003). O livro não possui nenhum defeito. Desde a construção dos personagens — destaque para a matriarca Baby Suggs — até o poder de despertar no leitor um sentimento que mistura ultraje (quando somos confrontados, continuamente, com o horror total da escravidão) e qualquer coisa de encantamento (no instante em que notamos a beleza extrema das palavras escolhidas por Morrison), Amada é o exemplo definitivo da força bruta responsável pelo ato de escrever e de pensar o texto literário como algo que transcende. “
Amada
Toni Morrison

 

DIANTE_DA_DOR_DOS_OUTROS_1366852836BOlívia – Belo Horizonte
“Este foi meu primeiro contato com a Susan Sontag e fiquei simplesmente apaixonada. Trata-se de um ensaio no qual a autora reflete sobre a imagem, principalmente a fotografia, e (in)sensibilidade do ser humano diante de imagens do outros sofrendo. Ela se debruça sobretudo sobre o fotojornalismo de guerra, analisando episódios específicos da história e fotos clássicas, colocando em perspectiva os efeitos das imagens conforme seu contexto. Um livro curto (com pouco mais de 100 páginas), mas poderoso, que nos faz lançar um olhar mais aguçado às imagens como uma forma de planificar episódios complexos da história.”
Diante da dor dos outros
Susan Sontag

 

 

capa-coracao-apertadoClarissa Xavier – Porto Alegre
“2015 foi o ano que entendi a importância de ler escritoras e desta descoberta nasceu o grupo #LeiaMulheres em Porto Alegre. Dentre os livros discutidos, “Coração Apertado” de Marie NDiaye é o meu destaque, literatura contemporânea surrealista da mais alta qualidade.
O livro narra o drama de uma negra nascida na periferia de Bourdoux, sua ascenção social e derrocada. A protagonista não é simpática e sua falta de bondade é semeada pouco a pouco. Deste modo, que não há sentimento de piedade pelo sofrer. Todos personagens são estranhos, misteriosos, dúbios. Não há pertencimento na história, mas sim uma grande dúvida sobre quem é quem, o que é o que, o que é verdade, o que é delírio.”
Coração Apertado
Marie NDiaye

 

GloboDoDesejoMayara Herculano – Campinas
“O livro que mais me marcou em 2015 é de uma autora de me fascina a cada leitura e releitura: Hilda Hilst. Em “Do desejo”, o organizador, Alcir Péroca, reúne sete livros de poesia da autora, publicados entre 1986 e 1992: Do desejo; Da noite; Via espessa; Via vazia; Amavisse; Alcoólicas; Sobre a tua grande face. A poesia é intensa e trata de temas universais como a paixão, desejo, espiritualidade e a busca de si mesmo. Essa leitura me acompanhará por toda a vida em forma de experiência literária, mas tbm como tatuagem.”
Do desejo
Hilda Hilst

 

 

12042012171622_dallowayAlessandra Jarreta – Fortaleza
“Tive a oportunidade de ler esse livro duas vezes durante o ano de 2015 (uma vez sozinha e outra com o grupo do Leia Mulheres), e preciso dizer que a releitura foi essencial. O livro pode causar uma certa estranheza quando lido pela primeira vez, mas quando já se sabe o que esperar, a experiência da leitura torna-se sem igual. Utilizando-se do fluxo de consciência, Virginia consegue adentrar a alma humana como ninguém, entregando ao leitor personagens de diversas faces e imensa complexidade, dentro de uma premissa simples, que é a festa organizada por Mrs. Dalloway. Em poucas páginas, a autora fala com poesia sobre a depressão e o modo como a doença é tratada, da loucura, do feminismo e do papel da mulher na sociedade, entre outros assuntos. Um clássico que precisa ser lido e que levanta muitas discussões, com certeza minha melhor leitura do ano. ”
Mrs. Dalloway
Virginia Woolf

 

amigagenial

Juliana Leueneroth – São Paulo
“Sou membro de carteirinha da “Ferrante Fever”, entusiasta mesmo deste livro e doida para ler as continuações da série. Para além de toda a polêmica de quem é de fato a autora e se o livro em questão é uma autobiografia, o que temos é uma construção de cenário e personagens vívidos e cativantes. A partir da narrativa de Lenu, temos a história de uma amizade entre duas mulheres fortes e também a história de uma época, de um lugar. Falei um pouco mais sobre as minhas impressões sobre o livro aqui.
A amiga genial
Elena Ferrante

 

 

americanahÁgda Santos – Boa Vista
“Romance é o último ponto em que presto atenção em uma história. Acho mais admirável prestar atenção ao universo particular que a narrativa de Ifemelu nos proporciona. O detalhe do cabelo, dos traços dos olhos, do sotaque, das roupas, da comida. E em como o racismo e machismo estão tão intricados que contaminam a tudo e todos. Ifemelu não apresenta soluções prontas para combatê-los, mas me identifiquei na parte de sempre estar fazendo algo para que o racismo e machismo acabem.”
Americanah
Chimamanda Ngozi Adichie

 

 

historiashibridas

Michelle Henriques – São Paulo
“Conheci a Carmen da Silva através da Clara Averbuck e logo fui atrás de algum livro dela. O primeiro que encontrei foi “Histórias Híbridas de uma Senhora de Respeito”. Ele ficou parado um tempo na estante até que resolvi conhecer e que livro incrível. Publicado na década de 80, ele traz questionamentos sobre o papel da mulher na sociedade que são pertinentes até os dias de hoje. Ele não apenas me ensinou muito, como reforçou muitas das minhas ideias. Agora é só esperar que alguma editora relance a obra completa da Carmen. Falei do livro aqui.
Histórias Híbridas de uma Senhora de Respeito
Carmen da Silva