A Vítima Perfeita

Por: Stephanie Borges | Em: 2 / dezembro / 2015

O status de vítima é algo delicado. Alguns encaram ser vítima como uma fraqueza, enquanto outros entendem que se reconhecer com vítima é saber que a culpa de algo não é sua. No entanto, há uma fragilidade em admitir que você não está no controle sua vida ou seu corpo, que está sujeito a algo contra a sua vontade. A vítima tem noção de sua vulnerabilidade. E quando entramos no terreno da violência sexual, vivemos numa cultura que tende a responsabilizar quem sofreu a violência.

Aviso: Vou tentar descrever a trama do romance miminamente, o que implica em adiantar alguma informações, mas nenhuma delas crucial para solução do mistério. Entrego um pouco no livro, mas nenhum spoiler grave.

Em “A vítima perfeita”, Sophie Hannah usa a ambivalência em torno da imagem de vítima e para compor o mistério em torno de dois crimes. O livro começa com o relato de uma mulher que foi estuprada em um site que reúne relatos de vítimas e é seguido por uma narração em primeira pessoa, na qual Naomi Jenkins parece manter um diálogo mental com seu namorado Robert. O tom dela é afetado e, conforme seu monólogo avança, percebemos ela se relaciona com um sujeito casado e control freak.

O relacionamento dos dois segue um ritual: os dois se encontram no mesmo hotel, bebem sempre o mesmo vinho, o cara volta sempre para casa no mesmo horário e a mulher fica lá, no quarto de hotel, fantasiando sobre quando ele deixará a esposa para ficar com ela. Até o dia em que Robert desaparece. Naomi fica preocupada, pois um homem tão meticuloso desmarcaria um encontro e decide procurar polícia.

É ai que conhecemos a dupla de detetives de Sophie Hannah, Charlie e Simon.  Na Flip, Sophie falou sobre como os detetives determinam a dinâmica de um romance policial. Eles podem descobrir o crime junto com o leitor ou desvendar o mistério antes e o relevar ao leitor. Com uma dupla, temos personalidades e linhas de raciocínio diferentes. Além disso, cada um descobre partes do crime e enquanto eles não confrontam o que sabem, somos nós que vamos juntando os pedacinhos ao longo da leitura.

Diante da indiferença da polícia diante de sua primeira denúncia, Naomi decide fazer outra queixa envolvendo Robert. Ela conta uma história extremamente detalhada que captura a atenção de Simon. Embora nenhum deles acreditem em tudo o que ela diz, eles percebem há ali o relato de uma vítima. E além de mais um crime a ser investigado, começamos a entender melhor a situação de Naomi. Seu empenho em negar o que aconteceu. Sua recusa em se ver como vítima e acolher a própria dor não resolvem seu problema. Em algum momento ela precisa lidar com seu passado.

“A vítima perfeita” é um romance policial que provoca diversos desconfortos. A relação que Naomi com Robert é tem tons abusivos, o casamento dele com Juliet é estranho, Yvon, a melhor amiga de Naomi é uma mulher em negação sobre seu ex-marido. Charlie está empenhada demais em provar para si mesma que é atraente, desejável e qualquer homem que a rejeitou deve ser arrepender por isso. São diversas mulheres, de diferentes estilos, cada uma com suas questões e empenhadas em seguir com suas vidas.

A minha maior dificuldade com o texto se deve a o fato de que demais investigadores além de Charlie, Simon e o chefe Proust soaram parecidos. Tive dificuldade em distingui-los, situar a cada um deles na história. Embora Hannah tente construir a dinâmica da equipe, dois policiais me pareceram sobrar, como coadjuvantes com falas que não impactam o andamento da história.

“A vítima perfeita” pode parecer pesado por envolver crimes sexuais e tem cenas que nos deixam desconfortáveis, mas, quem gosta de um romance policial com reviravoltas e uma trama amarrada, é uma boa leitura.

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