“Para a pessoa dentro da redoma de vidro, vazia e imóvel como um bebê morto, o mundo inteiro é um sonho ruim.” Uau! Que leitura forte. É assim que defino “A Redoma de Vidro”, o único romance da escritora norte-americana Sylvia Plath.
No livro, Esther Greenwood, 19 anos, é uma universitária exemplar que ganha uma bolsa de estágio de um mês numa revista feminina em Nova Iorque. O mundo de festas, bebidas e paqueras não a seduz. A impressão que passa é que ela se mantém distante, apática e vazia. O seu mundo parece ser em preto e branco.
Nesse meio tempo, Esther vive um conflito entre ser pura ou não. Ao descobrir que seu noivo, Buddy Willard, um estudante de medicina, não é mais virgem, suas convicções viram de cabeça para baixo e ela desiste de se manter casta e passa a planejar sua primeira experiência sexual.
Mas uma coisa a aterroriza: a possibilidade de ter um filho. Diferentemente das garotas da sua idade, em plenos anos 60, Esther não deseja se casar e tem pavor só de se imaginar grávida.
Os 30 dias de estágio terminam e Esther precisa voltar para casa, em Boston. Ao receber a notícia de que não foi aprovada na tão sonhada oficina de escrita, as crises de depressão de Esther se acentuam. A vida perde ainda mais o sentido e tudo o que ela pensa em fazer é se matar.
Esther não consegue mais ler, escrever, comer e dormir. O pensamento suicida a ronda 24 horas. Ela chega a cogitar se matar com uma lâmina, mas a mão treme e o corte fica incompleto. Parece que seu corpo tenta sabotá-la. A partir da incapacidade de se matar com um objeto cortante, ela muda o plano. Esther toma várias pílulas e adormece profundamente. Depois desse episódio, a mãe de Esther decide leva-la a um psiquiatra e posteriormente a interna-la num sanatório.
Segundo o relatório sobre prevenção ao suicídio da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado em setembro de 2015, mais de 800 mil pessoas se matam por ano no mundo. O Brasil é o oitavo país no ranking. Especialistas apontam que as causas para uma pessoa se matar são diversas, mas que a razão número um é a depressão.
De acordo com o IBGE, mais de 7% dos brasileiros já foram diagnosticados com depressão, o que significa que 11 milhões de pessoas estão sofrendo com essa tristeza profunda. E mesmo assim não há muita discussão sobre o assunto.
A depressão é uma doença silenciosa e, muitas vezes, as pessoas demoram a procurar ajuda médica. Seja por vergonha ou por acreditar que não estão doentes. Falar sobre depressão e suicídio é necessário para tentar evitar que mais vidas sejam perdidas. Eu conheço uma pessoa depressiva e aposto que você também.
Às vezes não conseguimos entender a doença quando estamos de fora, quando a doença não nos afeta. Os depressivos sofrem preconceito. Não é incomum ouvir que eles sofrem porque querem, quando a verdade está longe de ser assim. O mais interessante de A Redoma de Vidro é que o livro é contado em primeira pessoa. Acompanhamos a angústia de Esther a cada sentimento ruim e cada pensamento suicida. Você acompanha de perto a luta contra a depressão.
Sem dúvidas é um excelente livro para debatermos a saúde mental e entender um pouco as angústias e sentimentos de quem convive com a doença. Você mergulha cada vez mais fundo ao decorrer das 270 páginas. O livro é tão intenso que confesso ter tido dificuldade em lê-lo de uma vez. Eu precisei fazer umas pausas a cada 50 páginas para respirar e não me afundar junto com a Esther. Se você não estiver passando por um momento bom na vida, recomendo aguardar um pouco antes de iniciar a leitura.
Sylvia Plath publicou A Redoma de Vidro pela primeira vez em 1963 sob o pseudônimo de Victoria Lucas. A autora se suicidou em fevereiro do mesmo ano em que o livro foi lançado. Há suspeita de que A Redoma de Vidro seja uma obra autobiográfica.
Ilustração de Geraldine Sy.