“Pelo que vi, não é tanto o ato de pedir que trava a gente. É o que está por trás: o medo de ser vulnerável, o medo de ser rejeitado, o medo de parecer fraco ou carente. O medo de ser visto como um estorvo, e não como agente ativo da comunidade.” pág. 21
A americana Amanda Palmer se tornou conhecida no mundo da música por conta de sua banda The Dresden Dolls. Algum tempo depois ela lançou um ótimo álbum solo que vendeu uma boa quantidade de cópias, mas para a gravadora não foi o suficiente. Após alguns desentendimentos, Amanda resolveu começar um crowdfunding no site Kickstarter para a gravação de seu novo disco e conseguiu mais de um milhão de dólares que até o momento era um recorde para esse tipo de projeto.
Amanda foi então convidada a falar dessa experiência em um TED. O tema central de sua palestra foi a relação com seus fãs, e como pedir ajuda para eles para poder continuar compondo e gravando músicas. Ali ela nos conta que começou sua carreira artística como estátua viva, e que assim aprendeu a olhar as pessoas, a enxergá-las, a pedir e oferecer ajuda.
E graças a esse TED temos o livro “A Arte de Pedir”. Havia um receio de que o livro fosse apenas uma transcrição da fala dela no evento, mas é muito mais do que isso. Ela aborda melhor sua experiência enquanto estátua viva, fala de seus empregos anteriores, de sua relação com seu melhor amigo Anthony e sobre seu casamento com o escritor Neil Gaiman.
Amanda é uma artista que sempre esteve próxima de seu público, principalmente através de seu twitter e de seu blog. Inclusive, foi no blog que ela falou pela primeira vez a respeito de Anthony, que estava lutando contra um câncer (no final do livro ela nos conta que o câncer estava em remissão, mas há alguns dias Amanda postou em suas redes sociais informações sobre o falecimento do mesmo). No livro o tom confessional continua, não há uma linguagem forçadamente rebuscada, Amanda escreve despretenciosamente, dialogando diretamente com seus fãs.
Outro ponto importante que Amanda aborda em seu livro é seu casamento com Neil Gaiman. Gaiman é um reconhecido artista, com diversos trabalhos publicados e bastante respeitado no meio literário. Amanda já tinha uma carreira consolidada quando eles se casaram, mas mesmo assim muitas pessoas se referem a ela como “a esposa de Neil Gaiman”. Em meio a isso ela nos conta de seus medos quando ele a pediu em casamento, em como seria sua vida. No momento ela está grávida e em breve o mundo deve conhecer o bebê Palmer-Gaiman.
Amanda foi uma das mulheres responsáveis por popularizar o feminismo atualmente, explicar seus conceitos de forma clara e sempre se colocar à favor das mulheres fazerem suas escolhas, desde não se depilar ou o papel da mulher na indústria da música.
Sua escrita é confessional e sensibiliza o leitor. Amanda tem o costume de falar abertamente de sua vida, de sempre indicar onde está e isso a expõe muito. Ela confia em seus fãs e fica numa posição desprotegida. Não há como não sentir uma forte ligação com a escritora, não chorar junto quando ela fala de Anthony, não torcer pela saúde de seu bebê e não esperar que ela lance outro disco que faça igual sucesso aos demais.
Hoje em dia são poucos os artistas que permitem essa proximidade com seus fãs. Amanda sabe explorar isso muito bem, criou uma corrente de amizade com eles, fez com que um desse suporte ao outro. Em tempos de imediatismo e individualismo, Amanda consegue trazer à tona o lado sensível das pessoas.
“A Arte de Pedir” é justamente o que o nome sugere: como pedir ajuda para conseguir as coisas; no caso da Amanda, com sua banda e sua carreira. Nos dias de hoje, pedir ajuda pode parecer fraqueza, mas para ela é uma troca. Ela oferece sua música ou um autógrafo e os fãs estão ali para ela.